O edifício Emporium, construído em 1949 pelo arquitecto José Porto, um dos discípulos do arquitecto Marques da Silva, destaca-se pela sua grande fachada para a Rua de Sá da Bandeira e pelo gaveto que faz com a Rua Guedes de Azevedo, sendo constituído por três átrios de acessos independentes para os pisos superiores de habitação e de escritórios. A intervenção será realizada apenas em dois dos acessos: um por Sá da Bandeira e outro por Guedes de Azevedo Relativamente aos pisos térreos, são ocupados por estabelecimentos comerciais e de restauração, designadamente a histórica “Confeitaria Cunha”, parcialmente projectada no início dos anos 70 pelos arquitectos Victor Palla e Bento d’Almeida. O edifício tem ainda um acesso ao estacionamento público, com os respectivos acessos verticais para os pisos superiores. Neste caso, há uma solução de escritórios, instalações sanitárias e habitação distribuídos por uma galeria interna.
A Rua de Sá da Bandeira, iniciada em meados de 1836, é uma das mais emblemáticas na cidade do Porto. Na intervenção de 1842, com o desaparecimento do acesso à Porta dos Carros e Rua de Santo António, inicia-se a sua edificação ao longo da via. O prolongamento e contínuo crescimento foi-se sucedendo, até aos nossos dias, com a ligação recente à Rua de Gonçalo Cristóvão.
A pretensão visa a manutenção integral do desenho de arquitectura do arquitecto José Porto. O projecto consiste na reabilitação da habitação existente, incluindo, no entanto, as características de vivência actuais, designadamente de conforto; e na reconversão dos actuais escritórios em habitação, distribuída por tipologias que atraiam e retenham residências permanentes, de grande qualidade. No natural desenvolvimento do projecto será necessário proceder a alterações circunstanciais, evitando, no entanto, colidir com os fundamentos da morfologia existente. Assim, as alterações no projecto de arquitectura incrementam a qualidade residencial e recuperam a dignidade do edifício, de herança patrimonial, compreendendo uma melhor oferta para habitação de excelência, com áreas consideráveis e adição de lugares de estacionamento necessários à habitação no centro da cidade e na valorização do espaço de logradouro do edifício, onde será construído um jardim.
No acesso pela Rua Guedes de Azevedo a pretensão prevê o restauro integral dos espaços de habitação existentes, adicionando um sanitário completo, de modo a habilitar os apartamentos com melhores condições de habitabilidade.
Perante a manutenção dos acessos comuns, são distribuídos apartamentos de tipologia T3 com áreas entre os 130m2 e os 150m2 (distribuição em “esquerdo / direito”).
Quanto ao edifício com acesso pela Rua de Sá da Bandeira, prevê-se a alteração do corpo de escritórios, criando condições para habitação de excelência através da criação de apartamentos com áreas compreendidas entre os 100m2 e os 150m2, estabelecidos em tipologias de T2 e T3 e tipologia T1 acima dos 70m2.
Ainda sobre a proposta de integração, a construção de um novo piso de estacionamento, intercalado num pé direito de 5,80m, procura resolver questões relacionadas com as necessidades da habitação, sendo também uma mais valia para o centro da cidade, pois, no âmbito privado, a solução viabiliza melhores condições para o edifício respondendo às necessidades de estacionamento dos moradores. Ainda assim, a proposta da nova laje prevê a manutenção do estacionamento público, mantendo a sua capacidade máxima actual de utilização, atribuindo, ainda, melhores condições de utilização dos espaços, actualmente em mau estado de conservação. Aliás, a estrutura existente não sofre alterações, mas, através da reabilitação da estrutura, haverá um significativo melhoramento das condições de utilização e de segurança do parque.
Na cobertura existente sobre os pisos de garagem a proposta viabiliza o melhoramento do espaço do logradouro, prevendo a sua dignificação, contribuindo de forma significativa para o ‘interior’ da cidade. Esta solução viabiliza o edifício e todos os que desse espaço verde possam usufruir, designadamente construções vizinhas e os utilizadores dos serviços de comércio e restauração. A solução procura, portanto, a criação de uma atmosfera vegetativa, promovendo a criação de diferentes espaços verdes, com caldeiras e plataformas distribuídas em diferentes cotas para usufruto dos condóminos.
Ainda assim, a proposta de criação deste ‘espaço verde’ traz consigo o reforçar da estrutura existentes nos pisos inferiores da garagem, contribuindo no melhoramento estrutural de todo o edifício.
“Sendo um típico quarteirão de uma zona antiga da cidade, a sua área interior encontra-se altamente desqualificada e quase totalmente impermeabilizada. Este cenário de construções, com idades diferentes, encaixadas umas nas outras e já altamente degradadas, faz com que o uso do interior do quarteirão não seja mais que um uso de estacionamento, zona de acumulação de poluição e calor, e como tal, totalmente adversa ás pessoas que por aí habitem ou trabalhem, não contribuindo em nada para a qualidade da malha urbana da cidade.
É de salientar que a solução prevê ao nível do piso térreo, a manutenção integral do projecto de Victor Palla e Bento d’Almeida para uma parte do espaço da “Confeitaria Cunha”, se essa continuar a ser a intenção do arrendatário. Relativamente ao existente, são essenciais algumas intervenções cirúrgicas com o intuito de viabilizar o espaço e trazer de novo o seu desenho original. A intervenção complementar ao existente, prende-se com o espaço do logradouro, onde será aberto um grande vão orientado ao mesmo, proporcionando a ampliação do espaço interior (cozinha e sala de jantar) com vistas sobre o mesmo. Esta intenção procura o melhoramento do espaço interior da confeitaria, ao promover melhores condições a este espaço de tradição na cidade do Porto.
Relativamente às lojas orientadas à Rua de Sá da Bandeira, como não possuem um desenho de arquitectura a considerar, a proposta viabiliza a sua renovação integral, mantendo a sua licença de utilização, mas melhorando as suas condições gerais.
No âmbito geral, a proposta viabiliza todo o conjunto edificado, não propondo alterações à morfologia existente, pelo contrário, mantém integralmente as fachadas, cérceas, volumetrias e caixilharias originais em madeira, e propõe a iluminação das varandas e o restauro das coberturas do edifício. Ainda assim, no espaço de logradouro e devido às intervenções posteriores à construção do edifício, as caixilharias em alumínio (marquises) serão retiradas e será estabelecido o desenho original do alçado.
O programa de arquitectura apresentado para este lote prevê uma mudança deste paradigma, devolvendo a natureza ao quarteirão, natureza que lá terá existido e que de lá foi retirada sem se pensar nas graves consequências que esse ato traria para a população da cidade. A ideia da construção de jardins sobre lajes (coberturas verdes), introduzindo pontualmente árvores a diferentes cotas irá trazer a este pequeno quarteirão da cidade a responsabilidade ambiental que deveria existir pela cidade, com as enormes vantagens (anteriormente enumeradas) para a cidade e seus habitantes. Não se tratará apenas de benefícios para os privados que habitem este quarteirão, mas sim benefícios públicos para todos que habitam a cidade, no que é o impacte positivo a nível económico, social e ambiental, deste tipo de opção construtiva, o que ainda mais justifica a opção pelas coberturas verdes neste tipo de intervenção.”
(extracto da Memória Descritiva do Engº Paulo Palha, responsável pelo projecto de Paisagismo)”