Sementeira

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Ano: 2016 - 2019
Localização: rua Mouzinho da Silveira, Porto
Intervenção: 5 edifícios de comércio, habitação e escritórios, para apartamentos e comércio.
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De acordo com o P.D.M., os prédios encontram-se localizados em “Área Histórica”. Estes cinco edifícios, estão identificados no Documento Estratégico da SRU –PORTO VIVO, como parcela 14 da Unidade de Intervenção – Quarteirão SEMENTEIRA 14032.

Os edifícios ocupam a integridade dos lotes a nível do rés do chão, deixando no seu miolo um saguão exterior, confinado pelas fachadas de tardoz.

O prédio da Sementeira, com acesso pela rua Mouzinho da Silveira, é dividido por uma parede meeira de perpianho e, cada parte tem acessos e circulações verticais diferenciados, sendo constituído por rés/chão, 5 pisos e um mezanino no vão do telhado.
Os edifícios prolongam-se em dois “braços” que conformam o saguão exterior e onde se encontram as casas de banho. A cobertura apresenta um telhado de quatro águas, com a linha de cumeeira paralela às fachadas e a implantação de 2 janelas trapeiras. Os dois braços mais estreitos têm águas mais pequenas e pendentes para o interior do saguão.
A parte do prédio ocupada pela empresa Alípio Dias/Sementeira com acesso pelo nº 180, encontra-se em médio estado de conservação, e a parte do prédio atualmente desocupada, com acesso pelo nº 174, encontra-se em mau estado de conservação.
As fachadas são rebocadas, tendo a fachada principal influências do período Arte Nova, com a maior área ocupada por vãos. As empenas laterais são em perpianho com cerca de 30cm, sem aberturas e as lajes de pisos, em construção tradicional de vigas de madeira, com pavimentos em soalho e tectos em estuque.
Os edifícios com frente para a rua da Bainharia nos 51/53 e nos 55/57, têm uma configuração típica do Porto com uma frente contida. A fachada frontal é reduzida, abrindo nesta a maior área de vãos dando pouco espaço a parede, restando quase somente “pilastra”. Já as empenas laterais são em perpianho sem aberturas. Ambas as coberturas apresentam um telhado de quatro águas com a linha de cumeeira perpendicular às fachadas e a implantação de um lanternim.
A existência de duas varandas de granito e cornija contínuas, e o mesmo padrão de vãos, confere a estes dois edifícios um carácter unitário, lendo-se como um único alçado para a Bainharia.
O edifício com frente para a rua da Bainharia nos 59/61, tem igualmente uma configuração típica do Porto. A fachada frontal é reduzida, abrindo nesta a maior área de vãos. As empenas laterais são em perpianho sem aberturas. A cobertura apresenta um telhado de quatro águas com a linha de cumeeira perpendicular às fachadas e a implantação de um lanternim.
O edifício encontra-se em muito mau estado de conservação, tendo ruído todo o seu interior e encontrando-se a cobertura em ruína parcial.
Dispõe igualmente de uma fachada de tardoz, virada para o saguão exterior, com a mesma linguagem da Sementeira.
A pretensão desta proposta enquadra-se na necessidade de reabilitação do conjunto, privilegiando a criação de habitação de qualidade, com condições de segurança e salubridade e garantindo o respeito pela inserção em património histórico.

O licenciamento advém da reestruturação da organização interna dos espaços e da criação de ligações entre os 5 edifícios, o que permitirá a instalação de 9 fogos de tipologias T2, T3 e T4, a criação de estacionamento e a manutenção do comércio no rés/chão da Mouzinho da Silveira.

Elaborou-se um programa de funcionalidade e adequabilidade do espaço, tirando o máximo proveito dos elementos estruturais existentes, mas criando novas estruturas funcionais para que se possa propor uma utilização segura e legal de todos os espaços.

De uma forma geral serão mantidos todos os elementos aparentes no exterior dos edifícios.
Embora o Documento Estratégico proponha a manutenção das volumetrias, após consulta e discussão na DRCN e ainda na Sociedade de Renovação Urbana do Porto, vimos propor algumas alterações que consideramos integradas na malha urbana em que se enquadram.

Será diminuída a altura e a profundidade do recuado da rua da Bainharia nos 51/53 e, sobre o edifício nos 55/57, proposto um novo recuado com as mesmas dimensões. Desta forma, pretende-se, uniformizando os recuados, favorecer a imagem de fachada única destes dois edifícios e beneficiando um pouco a exposição solar da rua da Bainharia, no seu ponto mais estreito. Nas coberturas dos 3 edifícios da Bainharia serão redesenhados os telhados com apenas três águas eliminando apenas a do interior virada para o saguão e serão refeitos todos os lanternins segundo o desenho original.

O saguão exterior terá nova configuração para inclusão da caixa do elevador das casas de banho e lavandarias e garantir a articulação entre o prédio da Sementeira e os três edifícios da Bainharia. Apesar de aumentarem em largura estes “braços” de articulação, terão no entanto menor altura do que a actual o que, em conjunto com a criação de galeria comum de acesso aos apartamentos, garantirá maior área exterior de saguão por piso.

Serão prolongadas as trapeiras existentes na cobertura, mas mantida a sua altura e, na água virada a Mouzinho da Silveira, serão implantadas três novas trapeiras. Em todos os casos será respeitada a linguagem do património edificado envolvente, nomeadamente no que respeita ao tipo de revestimentos e técnicas construtivas da época em que se enquadram (recuados e trapeiras em chapa ondulada e telha marselha e caixilharia em madeira).

As fachadas existentes a manter, serão recuperadas e refeitos rebocos e pinturas, as cantarias serão lavadas e as caixilharias existentes serão para substituir por equivalentes em madeira, equipadas com vidros duplos, para lacar. Os elementos em ferro das guardas e varandas existentes serão tratados para pintar.
As paredes exteriores novas, que encerram o saguão, serão estruturadas por elementos em ferro com revestimento a gesso cartonado pelo interior e, pelo exterior, revestimento com placas de OSB, isolamento térmico. O acabamento do saguão será maioritariamente em reboco pintado, com revestimento a apainelado de madeira ao nível superior, e lambrim de granito com azulejo no pátio ao nível do 2º piso.
As estruturas horizontais de madeira serão recuperadas e, dentro do possível, as novas estruturas horizontais serão construídas com o sistema construtivo semelhante, em vigas de madeira contraplacada, soalhos de madeira e tectos em gesso cartonado, evitando trabalhos em ferro ou betão armado.
As paredes divisórias interiores serão leves, em gesso-cartonado.
Todos os novos vãos virados para o saguão exterior, serão em madeira para lacar, equipados com vidros duplos.

Arquiteto(a): Duarte Morais Soares
Equipa MSA: Elisa Moutinho, José Almeida, Sofia Gaspar
Fotografia: Inês d'Orey